domingo, 4 de setembro de 2011

ALGUNS CONTOS


ALGUNS CONTOS

By Bràz Dy VinnuH
















“Às vezes
Minha solidão queima –
Para acalmá-la –
Invento geleiras.
Às vezes
Para tentar afogá-la –
Invento fogueiras.”

[TÉDIO - Francisco P. Santos].


















Homem – homem – amo(r) sem nome.
Tua cara – cara tara...
Não repare – pare repare –
Não pare – tare vare pari –
Cara tua tara é rara...
E tara qualquer cara de pau. Hein!
Cara? – Cara não para.
Rara tara fará – Claramente
Mente – mente – clara – clara –
Clara – clara santíssima nova –
Mente – cara – coa(dor)
Cor(ação) leão pavão fauno
Flora favo mel – Aço de papoulas –
Criador criatura criação – Criancinha lobo mau.
Wal. Varal varão verão –
Vem maciez fálica – Bélica bela comigo
Contrapartida 3, 2, 1... No fim é que se conta –
Apronta mais contigo – Comigo contigo comigo –
Cuidado frágil coraçãozinho
“Sou fera ferida”
Novamente no corpo, na alma.
Na mente e no coração
No dente tente sente tesão – Invente Não
Minta levante tua – Uva raposa fox cruz rapto
Tua pele toda – minha crina
Dosa-me calafrios arrepios
Mios – cios – rios – chios – desplante
Cante – roa – à toa. Bom – boa –
Lendário – só é possível ao peixe raro
Viver fora do aquário – de igual pra
Igualmente – tem gente que não mente
Por ser igualmente diferente – dor não
Rima com solidão rima não...
Tão bom – "Um’son" – tom
Dom dadivante levante.





[FALSA RUBRICA]
BLACK-OUT. UMA FAGULHA DE LUZ NA ESCURIDÃO. OS REFLETORES COMEÇAM A FORMATAR A LUA CANTRIZ. A LUZ AUMENTA A INTENSIDADE GRADATIVAMENTE, ATÉ CLARÃO TOTAL. MÁSCARAS. COM ÂMBAR TRANSPARENTE. QUASE FUTUROU. NÃO FOSSE O PATRIOTISMO. O CREDO. A RELIGIOSIDADE. A POLÍTICA PREGRESSOU. A LUA PARECE UMA MAÇÃ DO AMOR. VERMELHA COM COBERTURA CROCANTE E TRANSPARENTE. VISTO DE PERTO OU DE LONGE ERA ALGO EM MOVIMENTO. COM LUZ NATURALMENTE TOMADA EMPRESTADA DO SOL. ALGUNS RAIOS. ALGO ASSIM COMO UM SORRISO. UM IMPROVISO. UM AMIGO. (UMA) OUTRA METADE INIMIGO. UM AVISO. BEDOTTI. PAVAROTTI. CAMÕES. TINHA QUE SER CLARO. MISTERIOSO. DO JEITO DO CLARÃO DA LUA. AOS OLHOS DO PÚBLICO O ATOR TRANSFORMA-SE EM PERSONAGEM. TUDO ESCURO ATRÁS DO MURO. APENAS A LUZ DA PENTEADEIRA DAVA O TOQUE DE LUMINOSIDADE. O ATOR EPOA-SE. QUEM SABE ELE ESTEJA VESTIDO COM UM MANTO COM CAIMENTO. VERMELHO. AMPLO. MANGAS LARGAS. ¾ OU SÓ UM POUCO ACIMA DAS MÃOS. UMA MALHA PRETA INTEIRA. MANGAS LONGAS ATÉ ÀS MÃOS, ENCAIXANDO-SE AOS POLEGARES. NOS PÉS UMA TIRA PASSA POR BAIXO DELES. A MALHA É OPACA ASSIM COMO AS SAPATILHAS. UMA TIÁRA DISCRETA ADORNA A CABEÇA NUA.










PRÓLOGO
No clarão da lua... Só poderia ser noite. “Night” era inglês. Pedrês. Cinzazulente por detrás do purpúreo ouro da lua cantriz. Que encanta (va) interpretando tudo o que quis. – aos poetas. Loucos. Lunático. Paranóicos. Para-didáticos. “PQP”. Não era hora de abaixar o nível nivelando-se ao lado escuro da “nigth”. Recheada de açoite. Carapanã. Praga. Mosquito. Muriçoca. Pernilongos. Pênis longos. Ufa! Há quem agüente?

















CENA I
O autor senta-se diante da máquina de escrever. Um foco de luz vermelha. Começa a trabalhar. Datilografa. Erra. Tira o papel. Amassa-o. Joga-o fora. Uma montanha de papel amassado ao seu lado. Música de Astor Piazzola ou um flamenco mais frenético possível. No fundo um telão. Nele projeta-se um autor atualmente informatizado. Plugado. Cheio dos recursos. O autor debruça-se sobre a máquina e dorme. (BLACK-OUT).














MOVIMENTO I
Crianças brincam de todo bicho. Cabra cega. Pega-pega. Pique. Pira. Marmanjos brincam de esconde-esconde. Não muito antigamente, não aconselhava essa brincadeira. Pelo fato de dar muita margem as iniciativas sexuais. Sacanagem mesmo. “Putaria”. Esfrega-esfrega. Mão na “bunda”. Mão no pau. Pau no pau. Roça-roça. Troca-troca. Beijos tímidos. Roubados. Safados. Fálicos. Lambidos. Molhados. Tarados. Melados. Gozosos. Gozados. Quem não gostava? _Ficava de fora. _ também nunca chegaria, a saber, o que era a deliciosidade do sabor cítrico da clandestinidade, cometida nas quase todas as noites de lua...














CENA II
O autor disfarçado em outras roupas, agora viaja em um trem – (MÚSICA/TRENZINHO CAIPIRA). Outro homem viaja na mesma cabine. Os dois sentados frente a frente. Examina um ao outro dos pés à cabeça. Os dois ao mesmo tempo seguram suas malas como se estivessem protegendo-as de um suposto assalto. O trem pára. Os dois descem e seguem em direção contrária. –Abraçados às suas malas – observando para trás como se estivessem sendo seguidos. (A LUZ CAI).















MOVIMENTO II
Parece (ria) ser inda gora. “Homem” escrito em azul forte. Graças a um artista gráfico. a revista do homem (em azulito). Nº. 13 de agosto de 1969 exibia um homem. Largo bonito sorriso na cara, elegantemente (mam). Verdugo (nhosamente) quebrava a cabeça da mulher para trás dos ombros... Costas... Ancas... Quartos... Quintos atributos de uma fêmea. Nua. Nuda. Pelada. Descascada. Ela não estava no contexto inicialmente “fêmea”. Sim mulher, sem qualitativo. Agora, quantitativo... quanta bunda e tetas. Era só a capa da revista HOMEM escrita em azul. Apimentada. Afrodisíaca. Quente. Respiração ofegante. Mexidos internos. O pulso ainda pulsa Arnaldo. Expulsa a dor. A glande dilata. Ata. Palpita coração. Sensação esquisita. A boca treme. Seca. Sede. Precipita-se um vai e vem frenético. Vem. Pára. Exala. Sabor almiscarado. Cor opaca. Gosto estranho e bom.














CENA III
O autor está sentado em um banco de praça, com a mala ao lado. Um saquinho de milho na mão, alimentando pombos. (A LUZ CRESCE ATÉ UMA TONALIDADE ENTRE O AMARELO E CINZA) – homem entre mago, louco e feiticeiro entra em cena com um turíbulo na mão defumando o ambiente. (MÚSICA AO FUNDO). Ao passar perto daquele que já encontrava na praça, percebe-se o desconforto do autor que solta o saquinho de milho. Apressando-se em segurar e proteger a mala. O mago observa estranhamente sem deixar de andar. O autor um pouco sorridente se levanta do banco, sai fazendo passos de dança um pouco estranho. (B.O).













MOVIMENTO III
A lua refletia sua cor de prata e ouro no espelho rasgado pelo tempo. O sonho já se fora. Havia plantado várias árvores. Agora escrevia, se não um livro, UNS CONTOS. De réis. Reis. Rês. Algum haveria de conquistar, pois merecia. Ao ter optado por “isto ou aquilo”. Não acreditaria no discurso de não-ação? – ora não. “Pôrra” meu, É (ra) de revoltar. Adorar Scorza, Mailer, Jean Genet, Pêssoa, Ramos, Matos, Amado num dia de cão. Tâmara Taxan – Fernanda. (A REVISTA À MÃO. QUALQUER COISA, OUTRA FOLHEADA).















CENA IV
O despertador toca. O homem atira o travesseiro no relógio, que cai fazendo um barulho estrondoso, como se estivesse sendo desmontado devido ao impacto. O homem levanta, espreguiça, vai ao banheiro, urina, sacoleja para não molhar a roupa. Lava a mão volta e tradicionalmente prepara o café. Serve ao público (da primeira fila). Muda de roupa. Passa trajar bermuda, camiseta, boné. Assovia chamando o cachorro. Sai de casa para passear. Caminha tranquilamente entre as pessoas. O cão puxa abruptamente a corrente quase levando o seu dono ao chão. O cachorro late para alguém ou coisa oculta. Foge deixando o homem sem ação. Som de carro atropelando o cachorro. Impacto forte. Morte instantânea. Música comovente. Homem chora a perda, suspira a perda. Como se dissesse: foi bom enquanto durou. (MUSICA) ele sai dançando com passos estranhos.














MOVIMENTO IV
Ele não tinha motivo para comover-se. Mas, haveria de estar em MOVIMENTO, ora chorando, ora cantando, ou sorrindo. Ainda que no lançamento ao vento ou ao lixo. Depende do entendimento. Sentimento. Somos muito racionais. Que droga que nada. Quando é que doidos e livres caminharão juntos, numa mesma carroça? Limusine? Jatinho? Helicóptero. Cruzeiro. Trem em movimento, satisfeitos pelo que são e podem fazer não pelo que possuem? A não ser o dom de escrever de verdade. Algo que ficou para Augusto dos Anjos, Joyce, Adonias Filho, Poe, Pound. A caminhada é a mesma. Só mudam os tripulantes. Ativos. Passivos. Com ou sem juízo. Questão de sorte. Oportunidade ou morte. Uns vão. Gozam. Provam. São bons. Fizeram. Fazem. Aconteceram. Acontecem. Tecem. Outros ficam. Às vezes lhes falta passagem de ônibus. Navio. Circular. Trem. Amém. Amém!












CENA V
Entrando em casa, liga a TV. No ar, matéria sobre queimada. Levanta-se da cadeira ou rede. Corre em círculo pelo espaço, pega um regador de flores, enche-o de água. Quando vai saindo, pára. Volta, olha mais uma vez para o noticiário. Procura desesperadamente algo. Encontra um penico que bota na cabeça e sai correndo como se cavalgasse num cavalo de pau. (SONOPLASTIA).
















MOVIMENTO V
Besteira. Dinheiro para ir a Londres falar com Marcio Sousa. Garcia Márquez – Mais fácil um encontro com Shakespeare. Quem sabe um vinho com Salomão. Diante Dele, pedindo direção. Orientação. Proteção. Sabedoria. O Homem não sabia o que fazer. Rezar ou chorar? Outra vez os pulsos cortar? Enfiar o dedo no anel e converter-se ou comover-se ao cometer um casamento? Só se topasse uma parada que conciliasse o lado privado, a fim de manter-se do próprio marketing. Um escândalo arrojado. Uma história mal escrita vira livro. Dá dinheiro. Quem sabe assim? Ele arquitetava. Não seria necessário o escândalo do casamento arranjado. Mas sim o escândalo do conto nos jornais, revistas, exposições, folhetins. O ideal era não perder tempo e divulgar. Visualizar. Aí o escândalo poderia levar ao casamento que não fosse comum. Que celebre a liberdade. Respeito. Nada de opressores nem oprimidos. Onde pudesse perceber ao longe, mesmo que só sobre o luar da lua cantriz que encantava males e relaxos desejos... Voluptuosos. Onde machos bichos fêmeas índios castos deuses reis ateus bandidos mocinhos heróis negros amarelos vermelhos brancos ricos pobres domésticos engraxates garis guris santos profanos doidivanos vilões e toda raça humana possa apertar as mão e dizer até sempre!











CENA VI
Volta exausto com o rosto todo sujo de cinzas. Atira o penico e o regador por sobre algum móvel. Começa a tirar a roupa. Primeiro a camisa. O sapato. Quando vai tirando “as calças”, lembra que está sendo assistindo pelo público e que talvez ele não seja ator, pára. Vai ao banheiro, fecha a porta, só se vê uma sombra em movimento de despir-se. Batidas à porta. Ele fica assustado. Olha de um lado para o outro. Encena que vai até a janela. Tenta abrir e não consegue. As batidas continuam na porta. Cada vez mais apavorante e ele apavorado. Põe-se a vestir-se desesperadamente. (MÚSICA EXPRIMETAL FATO). Mudanças para alívio imediato. Cessam-se as batidas na porta. Fica um pouco mais tranqüilo. Volta a tirar a roupa. (NO BANHO). Sombra de uma pessoa que espia. Suspense. A sombra se aproxima sem ser notada. Cada vez mais. Aumenta a música. A sombra aproxima. Um grito ensurdece a platéia.














MOVIMENTO VI
Pensando em como executar seus planos, o homem sentindo-se cansado, sorriu. Vida de autor é dura. Tinha que dar nó em pingo d’água. Coincidência ou não, ele iria dormir com aquela idéia na cabeça de vento. Funcionaria. O autor não debruçara sobre a mesa por falta desta. Guardou a caneta BIC que deu uma força na escrita. Coçou o saco com vontade. Se continuasse gozaria outra vez involuntariamente. Autômato cortou a ponta do baseado com a tesoura. Acendeu e fumou tragando profundamente. Folheia uma revista, bebe uma cerveja, ao fundo, um porta-retrato com a foto do perfil de um moço louro, como que fazendo pose de movimento de atividade marcial, bem no canto da foto. Para frente.


















CENA VII
Um homem vestido de vestido branco. Com possibilidade de ter um anjo e um diabo disputando a alma do dito ser emblemático que gritara de medo no banheiro. Disputam de forma descarada na cara ou coroa. O anjo vence. O diabo ainda tenta trapacear. Não consegue. A alma se salva. O anjo sai abraçado ao homem dançando e fazendo os mesmos passos estranhos conforme a orientação do diretor. (B.O).
















MOVIMENTO VII
Agora era hora de pensar em sobrevivência. Se sobrasse tempo, dedicaria seu tempo integralmente ao ofício de escrever maluquices, sonhos, fantasias, ele gostaria de mostrar um trecho de alguma de suas histórias absurdas, que falasse de possibilidade de haver espaço para cada estrela ou constelação de cada um onde os direitos e deveres fossem iguais e sem trapaça. Que ninguém fosse apenas espectador de seus filmes, sim, que pudessem protagonizar o espetáculo da vida e da morte em sua totalidade. No clarão da lua.















CENA VIII
O autor acorda assustado. Verifica o próprio corpo. Espantado. Como se dissesse: ESTOU VIVO. Graças. Foi apenas um sonho. Conclui o seu trabalho feliz da vida. A música aumenta, o autor sai dançando aqueles passos de dança
maluca do sonho. (BLACK-OUT).















ÚLTIMO MOVIMENTO
A LUZ ACENDE. BLACK-OUT. UM PINGO DE LUZ NA ESCURIDÃO. OS REFLETORES COMEÇAM A DAR FORMA A LUA DO ÍNÍCIO. UM CLARÃO. LUZ COR DE OURO. A SOMBRA DE DOIS HOMENS DE MÃOS DADAS SURGE DO FUNDO, CAMINHANDO EM DIREÇÃO DA PLATÉIA. SUGERE QUE ELES ESTÃO SE APRESENTANDO AO FINAL DO ESPETÁCULO. A MÚSICA SOBE. LUZ NA PLATÉIA. (SUGESTÃO: HOLOFOTES DEVEM INCOMODAR A VISÃO DO PÚBLICO, POR UM CURTO ESPAÇO DE TEMPO, E RETORNAR EM CLIMA AMENO DE FINAL DE ESPETÁCULO).

FIM









Vilhena, 28 de janeiro de 2006.
Ladeira do Suspiro
Estação das águas